Por Dr. Rafael Modesti de Albuquerque.
Quem nunca passou por um episódio depressivo não tem a mínima capacidade de opinar sobre o sofrimento mental e suas consequências clínicas. Aliás, a crítica é quase sempre a mesma: “ah, isso é falta do que fazer”, “isso é da sua cabeça” e, pior ainda, as vezes dizem que é “falta de laço” ou de “vergonha na cara”. Em primeiríssimo lugar, devemos duvidar do intelecto de quem diz esses absurdos. Depois, da sua própria dignidade humana e moral. Afinal, embora mude apenas o endereço, ouço isso todos os dias no meu consultório, ora dos familiares, ora das empresas que crucificam os funcionários com sofrimento mental.
Durante um episódio depressivo ou de ansiedade ocorre uma alteração química cerebral, de neurotransmissores. Isso é científico, médico, biológico e anatômico. O paciente não consegue entender o motivo de estar sentido tristeza e ansiedade, pensando em absurdos, como a própria morte ou se remoendo em autojulgamentos. Em grande parte, a autopunição ocorre com frases do tipo “eu tenho tudo, dr. e não tenho motivo para estar assim”, “sou uma péssima pessoa” ou “eu só queria sumir”.
O desequilíbrio neuroquímico cerebral, especialmente das substâncias Serotonina e Noradrenalina, provocam sintomas físicos reais. O paciente não quer se levantar da cama ou sair de casa. Entenda, de uma vez por todas, que ele não faz isso por “sem-vergonhice” ou por “preguiça”. Ou me diga se quando você está gripado o “peso” do corpo não lhe parece três vezes maior e o sono é irresistivel? Assim como o vírus da gripe faz nosso corpo liberar substâncias anti-inflamatórias, na depressão os neurotransmissores desregulados geram analogicamente as mesmas sensações e sintomas.
Associado as questões bioquímicas, o pensamento ou a psique é obviamente parte inseparável do sofrimento mental. Sim, há motivos ou causas que precipitam os transtornos mentais, sejam eles do ambiente atual (familiar ou trabalho), sejam da própria constituição histórica dos eventos de vida. Mas o que vem antes? O biológico ou os pensamentos? Impossível responder! O que veio antes, a galinha ou o ovo? Logo, frente ao sofrimento mental as causas devem ser cuidadosamente verificadas por profissionais competentes, como os indispensáveis Psicólogos. E é através da fala, com alguém que não vai julgar os seus pensamentos e sentimentos, que vai conseguir trabalhar questões presentes e pretéritas, muitas delas inconscientes, começara uma investigação minuciosa. Aqui já vai uma dica: encontre um Psicologo (a) que você goste e faça sentido a terapia (troque, se preciso).
Por tanto, se você está em sofrimento mental ou, ainda, se você é familiar ou empregador de alguém que esteja assim, não exite de buscar um médico e um psicólogo. Ajude por humanidade e por amor ao próximo. A crítica é um veneno para quem já está doente. Em pleno 2024, não entender que depressão e ansiedade são problemas médicos e psicológicos é certificado de tolice. E lembre-se: “caixão não tem gaveta”.
